"Meu nome é
rádio, minha mãe é dona Ciência, meu pai é Marconi.
Sou descendente longínquo
do telégrafo, sou o pai da televisão.
Fisicamente sou um ser eletrônico.
Meu
cérebro foi formado por válvulas, minhas artérias são fios por onde corre o
sangue das palavras. Meus pulmões são tão fortes que consigo falar com pessoas
dos mais distantes pontos deste pequeno planeta chamado Terra.
Minha vitamina
chama-se kilowatt.
Quanto mais kilowatts me dão, mais forte eu fico e mais
longe eu falo.
Hoje, graças as baterias
que me alimentam eu posso simultaneamente levar informações aos contrafortes
das cordilheiras, às barrancas dos rios, ao interior de veículos que trafegam
no centro nervoso das grandes cidades, à beira plácida dos lagos, à cabeceira
dos doentes nos hospitais, aos operários nas fábricas, aos executivos nos
escritórios, aos idosos que vivem sós e às crianças que só vivem.
Eu falo aos
religiosos, aos ateus, às freiras, às prostitutas, aos atletas, aos torcedores,
aos presos, aos carcereiros, banqueiros, devedores.
Falo aos estudantes e
professores... Seja você quem for, eu chego lá, onde quer que você esteja!
Mas estou sempre
sujeito a cair em tentação e às vezes não consigo me livrar de todo mal.
Quando eu nasci, meu
pai me disse que eu tinha uma missão: ajudar a fazer o mundo melhor,
entrelaçando os povos de todas as partes deste planeta.
Meu nome é rádio. Eu
não envelheço, me atualizo.
Materialmente eu sou aperfeiçoado a cada dia que
passa.
As grandes válvulas do
meu cérebro foram substituídas por minúsculos componentes eletrônicos.
Os satélites de comunicação, gigantescos engenhos girando na órbita deste planeta, permitem hoje que eu seja mais universal, mais dinâmico e menos complicado, como meu pai Marconi queria que eu fosse.
Os satélites de comunicação, gigantescos engenhos girando na órbita deste planeta, permitem hoje que eu seja mais universal, mais dinâmico e menos complicado, como meu pai Marconi queria que eu fosse.
Minha forma técnica
tem sido aperfeiçoada a milhares de anos luz, mas eu acho que no todo, o meu
conteúdo ainda necessita ser burilado e melhorado, e trabalhado e aperfeiçoado.
Tenho noção, mas eu já perdi a conta, do número de pessoas que eu ajudei
indicando caminho, devolvendo a esperança, anulando a tristeza, conseguindo
remédios, sangue, documento perdido, divulgando nascimentos e passatempos.
Mas eu não sou tão
sério assim como eu posso estar parecendo.
Na verdade, um dos meus principais
interesses é fazer com que as pessoas vivam mais alegres. Por isso, passo
grande parte do meu tempo ensinando as pessoas a cantar e a dançar, minha grande
vontade é a de ser amigo, sempre.
O amigo que todos gostariam de ter: útil nas
horas sérias, alegre nas brincadeiras e responsável... sempre!
No esporte tô sempre
em cima do lance; nos dois lados da rede das bolinhas de tênis ou de voleibol,
e lá vem bola, na área do futebol, jogou na cesta tô lá, nadou, pulou, saltou,
pegou, virou, driblou...
Pode ser no pequeno clube da periferia ou nos grandes
estádios Olímpicos.
Tenho noção de minha força política.
Com uma notícia que
dou, eu posso ajudar a eleger o diretor de um clube ou derrubar um presidente.
Entendo minha grande responsabilidade de agente acelerador das modificações
sociais.
E morro de medo, que me transformem em um mentiroso alienador.
Sem
querer ser vaidoso, eu posso até afirmar que se eu não tivesse nascido o mundo
não seria o mesmo.
Meu nome é rádio. Eu não quero ser mal entendido. Eu sou
apenas um instrumento.
Para fazer tudo isso
que eu disse que faço eu preciso de uma equipe, de seres humanos, humanos!
Que
não tenham medo do trabalho, que entendam de alegria, emoções, fraternidade,
que saibam sentir o pulso do campo e o coração da grande cidade.
E que tenham
noção básica de tudo aquilo que fazemos é para conquistar ouvidos.
O que jamais
conseguiremos, se nos esquecemos, que minha existência se deve ao número dos
que me ouvem.
O rádio vale pelo
volume e a qualidade dos seus ouvintes.
Eu podia fazer muito mais, mas às vezes
falta dinheiro pra fazer tudo o que quero.
Eu sei que posso realizar o sonho do
meu pai e mudar o mundo pra melhor.
Outro dia fiquei muito triste quando ouvi
um tal de Hélio Ribeiro dizer que eu, o rádio, sou "a maior oportunidade
perdida de melhorar o mundo".
Eu sou apenas o
instrumento.
Eu preciso de gente que me entenda, me respeite e que me ajude a
cumprir a minha missão.
Ah, com alegria, muita alegria... Se possível."