Tive a oportunidade de ver e ler a entrevista do ex-goleiro
Bruno no último fim de semana...
Como todos sabem ele é acusado de matar Eliza Samúdio, com
quem tem um filho...
O jogador que está preso na Penitenciária Nelson Hungria, em
Nova Contagem-MG, recebeu Marcelo Rezende pra falar sobre como está sua vida,
além de sua versão para o crime...
A maneira que foi conduzido todo o caso sempre me causou a impressão
de que apesar de ser o pivô da historia Bruno não foi o principal culpado pelo
crime...
Nunca fui muito fã do goleiro como jogador e também fora de
campo, mesmo não o conhecendo pessoalmente...
Mas não acredito que mesmo do alto de sua arrogância ou do
sentimento de “estar acima do bom e do mal”, o goleiro fosse capaz de cometer
tal crime...
Acho que o grande problema foi Macarrão...
Tão despreparado quanto o goleiro, querer “resolver” o
problema para o amigo Bruno...
Eu sempre digo que quase todos os grandes jogadores de
futebol são muito bons jogadores , e só...
Raríssimos são os casos de jogadores que sabem se expressar,
se relacionar ou até compensar a falta de preparo escolar que tiveram em sua infâncias
quase sempre sofridas, depois que conseguem com a bola mudar de vida...
Sobre querer voltar a jogar um dia, por que não???
No nível dele temos vários jogadores no país...
E ele precisa desse sonho para sobreviver...
Sei que serei criticado por muitos...
Mas Bruno nada mais é que uma vítima do próprio destino, de
seu próprio talento...
Que ele pague tudo que deve...
E que seja feliz...
Abaixo a entrevista publicada no jornal HOJE EM DIA e veiculada pela TV RECORD:
Do que sente mais saudade hoje?
Da família. Quando você está no sistema, se sente um pouco
sozinho, sente saudade das coisas que antes não dava valor. Quando está numa
situação como essa, a coisa mais importante é a família. Sinto muita falta das
minhas filhas, esposa e mãe.
E o futebol?
O futebol sempre foi um sonho, desde criança. Sinto muita
saudade da torcida gritando meu nome, do Maracanã e do Mineirão lotados. Mas eu
acho que trocaria tudo isso pela família.
Quando você viu que passou de ídolo do futebol a detento
número 326944, como foi sua reação?
As lágrimas que caem no rosto já explicam tudo. No começo eu
estranhei muito, porque de ídolo a um presidiário, você chegar a uma cela
escura, fria, tendo que passar a comer uma alimentação que não é boa.
Acostumar, jamais, mas se adaptar é muito difícil. No começo eu pensei em
várias situações dentro da minha cela, num lugar onde o preso paga o seu
castigo, fica em observação durante 15 dias. Só nesse lugar eu fiquei dez meses
(chora).
Como foi o período de isolamento nesses dez meses?
Eu tentei uma vez o suicídio. Pendurei um lençol na janela,
pedi perdão a Deus, primeiramente, sem saber do mal que eu estava fazendo à
minha vida e não ia ser perdoado nunca, e pulei no lençol. Fiquei pendurado ali
por 10, 15 segundos, mas arrebentou e eu caí no chão. Olhei para um lado e pro
outro, naquela cela escura, e vi a minha Bíblia e pensei: ‘Meu Deus, o que eu
estou fazendo comigo? Eu tenho filhos lá fora, uma vida imensa pela frente, não
vou fazer isso’. Hoje eu vivo pelos meus filhos, mulher e mãe. Eu tenho certeza
de que eu sou, depois de tudo isso, uma pessoa melhor, um filho melhor, um pai
melhor e um marido melhor. Então, vou dar o meu melhor para todas elas.
Você confirma que Ingrid chegou a estar grávida e perdeu a
criança? Você poderia ser pai de novo?
Eu não conversei ainda com a minha mulher, mas é tudo o que
eu quero na vida. É uma coisa que nós, na verdade, ainda estamos superando.
Você trabalha na cadeia?
Tendo a oportunidade de trabalho. O que eles colocarem para
poder fazer, eu faço. Hoje faço de tudo um pouco. Eu gosto tanto de futebol que
costuro bola (ri), faço artesanato. Se tem alguma coisa para ser feito, como o
projeto de uma vassoura, eu faço também, não tem problema. Eu não tenho
vergonha nenhuma. Já trabalhei na faxina, na lavanderia. Tendo a oportunidade,
eu trabalho.
O que a cadeia mudou no Bruno?
Eu acho que não precisa de muito para ser feliz. Você pode
viver com o básico, com as coisas mais simples, com as coisas que, às vezes, as
pessoas lá fora não enxergam, que é o amor. Então, hoje eu sou uma pessoa
melhor, sou um ser humano melhor.
Se você tivesse que, nesse Dia dos Pais, que é quando a
matéria será publicada, mandar um recado para Bruninho, qual seria?
Se ele estivesse aqui do meu lado eu ia poder, pelo menos,
abraçá-lo e pedir perdão. Mas, com certeza, esse momento um dia há de chegar e
eu preciso só de uma oportunidade para poder olhar nos olhos dele e dizer que,
independentemente do que aconteceu, que ele me perdoe. E que eu possa
abraçá-lo, que eu possa dizer que o amo, que ele me dê a oportunidade de tentar
explicar tudo que aconteceu realmente, não o que foi veiculado, o que está
dentro desse processo.
E se ele te perguntar onde está o corpo da mãe dele? O que você vai dizer?
Eu até peço, nesta oportunidade que estou tendo, que
entreguem os restos mortais para que possam dar um enterro digno para esta
pessoa. Mas é uma coisa que eu não posso fazer, não está na minha mão. Gostaria
de poder fazer isso até por tudo. Eu acho que seria pelo meu filho, pela
família dela, pela minha família. Seria importantíssimo nesse momento. Mas não
está nas minhas mãos, eu não tenho esse conhecimento. É isso que eu ia tentar
explicar para ele.
E se ele perguntar por que você sabia que a mãe dele estava
morta e não quis contar para ninguém? Como vai explicar?
É como tentar explicar pro mundo todo, mas sempre vai cair
na mesma pergunta. Então, não tem como explicar. É tentar explicar para ele:
‘No dia que você for da minha idade, você estiver na fase de adolescente e
tiver grandes responsabilidades, tome cuidado, olhe com quem você vai andar, as
amizades, tome conta da sua vida’. Tentar orientá-lo, porque isso não tem como
explicar, não tem jeito. Eu tive medo, tentei proteger alguém... Enfim, não tem
como, é difícil.
E por que você não fez até hoje o teste de paternidade?
Eu estou aqui, qualquer material que for preciso para fazer
esse DNA eu faço. Só que lá no início faltou oportunidade. Então, mesmo sem
fazer o exame, eu vou assumir a criança, porque ela não tem culpa de nada. Mas,
por que fazer o DNA agora? Se for meu filho mesmo, ótimo. Já registrei, já
considero e tenho sentimento de pai pela criança. Se não for, o sentimento não
vai mudar.
Você se sente culpado pela morte de Eliza?
De certa parte, sim. Eu poderia ter feito alguma coisa e não
fiz. Se eu tivesse naquele momento no Rio, depois daquela agressão que teve do
menor, se eu tivesse ali tomado a iniciativa, falado: ‘Ninguém vai viajar aqui
não, vai ficar aí, não concordo’. Se eu tivesse agido ali, eu não teria deixado
acontecer. Mas eu fui deixando as coisas acontecerem e simplesmente fechei os
olhos até achegar a esse ponto. Ali eu tinha que ter feito uma intervenção. Eu
não mandei matar a Eliza, não mandei. Isso eu afirmo. Agora, você sabia? Sabia
sim. Mas eu não mandei matar a Eliza.
Se você tivesse que dizer o momento em que errou, qual seria
esse momento?
O erro faz parte da vida, principalmente quando a pessoa é
muito jovem, quando pensa que nada pode acontecer a ela e que é dona do mundo e
intocável. Talvez o meu maior erro nessa situação foi a minha personalidade
forte, achar que podia tudo.
Como você conheceu a Eliza Samudio?
Eu a conheci na festa de um amigo. Todos sabem disso. Só fiz
sexo com ela uma vez, questão de 15 ou 20 minutos. E a festa é mais ou menos
isso, com garotas de programa, sexo e bebidas.
Quando foi que ela passou a te procurar?
Três meses depois, Eliza me ligou no hotel onde eu estava
concentrado dizendo que queria conversar. Eu disse que não tinha nada para
conversar com ela. Mas ela insistiu, dizendo que, se eu não conversasse, toda a
imprensa ficaria sabendo. Até acreditei que havia pegado uma doença.
Deixei a
delegação ir embora pra conversar com ela. Foi quando Eliza falou que estava
grávida. Naquele momento bateu um desespero, pois eu tinha saído de um
casamento conturbado e já tinha duas filhas. Eu queria sumir. Como eu ia
explicar isso para minha noiva? Tentei manter tudo em sigilo, em silêncio. Se
eu não desse dinheiro, ela ameaçava fazer um escândalo.
Eu sempre tentava
apaziguar a situação, dizendo que ela não precisava fazer aquilo, pois, se realmente
eu fosse o pai, ela teria todos os recursos e estrutura necessários para cuidar
da criança. A nossa briga começou assim e foi daí que o Macarrão, que era uma
pessoa de confiança, tomou a frente de toda a situação.
Você pode explicar a sua amizade com Macarrão?
Primeiro, não existe esse negócio de gay. Isso é uma
fantasia que veio do meu antigo advogado e eu não sei de onde ele tirou essa
ideia. Eu sempre frequentei a casa dele (Macarrão) desde muito novo, e ele me
ajudou bastante. Uma pessoa guerreira que veio de baixo, assim como eu. Tivemos
uma infância difícil. A amizade cresceu tanto que nós chamávamos um ao outro de
irmão. Mas ele tinha ciúmes ao ponto de se intrometer demais na minha vida.
E a tatuagem que ele tem nas costas?
A frase que ele fez, e foi muito questionada durante o
processo, é de uma música: ‘devido à amizade nem mesmo a força do tempo irá
destruir, somos verdade, quero chorar o teu choro, quero sorrir teu sorriso,
valeu por você existir, amigo’. É uma música. Ele queria escrever essa música
nas costas em relação à nossa amizade. Isso aí foi bem antes. Tem gente que faz
o Rogério Ceni no braço, tem gente que faz o São Marcos. São grandes goleiros.
E ele fez uma música em relação à nossa amizade.
Mas Macarrão te acusou de ser o mandante da morte de
Eliza...
É uma situação difícil de explicar. Isso me surpreendeu. Eu
não sei por que ele falou isso. Volto a dizer: eu jamais iria mandar matar uma
pessoa. Isso foi uma coisa que partiu dele. Mas se eu contasse a verdade, eu
estaria jogando o meu irmão na boca do leão.
Valeu a pena ter jogado tudo pro alto pra defender seu
amigo?
Não tem como responder assim. O que eu posso pegar de
aprendizado é que deu pra rever os meus conceitos, rever a amizade. Enfim, eu
amadureci e aprendi muito com tudo o que aconteceu.
E qual é a sua verdade sobre o caso?
A verdade é que eu não mandei matar a Eliza, e desde o
começo eu sabia que ela tinha sido morta. Ela foi agredida no Rio, tinha um
corte bem pequeno na cabeça. O Macarrão falou que tinha sido o meu primo. Mas
ela nunca foi agredida na minha presença e nunca esteve privada de liberdade.
Foi nesse mesmo dia que eu dei uma surra no meu primo, o Jorge, porque um homem
jamais deve bater em uma mulher.
Você disse que um homem não deve bater em uma mulher, mas
foi o Macarrão que matou Eliza?
Não tenho como falar, pois não foi nada na minha presença.
Não tem como eu falar se foi o Macarrão que matou a Eliza. Pelo que eu conheço
do Luiz Henrique, eu acho que ele não teria coragem.
No dia do crime, Macarrão, meu primo, Eliza e Bruninho
saíram de carro do sítio. Macarrão voltou só com o menino e eu vi que tinha
acontecido alguma coisa. O Macarrão disse que nunca mais poderia chamá-lo de
“bundão”, que ali estava o meu filho para que eu pegasse e cuidasse. Eu me
desesperei, tive medo da situação. Não precisava chegar naquele ponto. Aí caiu
a ficha.
O que o seu primo contou sobre a morte?
Ele contou que foi uma coisa muito esquisita. Que chegaram
numa casa escura, estava tudo muito escuro. Chegou um cara negro, alto, forte e
com uma falha no dente. Ele cheirou as mãos de Eliza e perguntou se ela usava
drogas. Aí ele amarrou as mãos dela para trás e, depois, o cara cortou o corpo
de Eliza. Disse que uma das mãos foi jogada para os cachorros. Aí eu falei: ‘O
que é isso?’. Fiquei muito assustado.
Aí eu foquei na criança, no Bruninho. Eu
estava dizendo pra todo mundo que ele era meu filho. O que eu vou dizer para o
meu filho? Que eu mandei matar a mãe dele? Eu tenho muito medo do que pode
acontecer, da criação dele. Não quero julgar ninguém, mas se a própria mãe da
Eliza não cuidou dela, deixou a Deus dará, o que ela vai plantar no coração
dessa criança, se realmente for meu filho?
Em um treino você disse à imprensa: “Ainda vou rir disso
tudo”. Como convivia com a morte que você sabia desde o início, mas mentia
sobre o assunto?
Por mais que as pessoas possam dizer ‘ele foi frio’, não, eu
não fui. Eu estava abatido, muito magro e pareceu nitidamente que era mentira.
Só que eu precisava dar uma resposta, falar alguma coisa. Tinha medo de ser
preso e já sabia que ia ser preso naquela altura do campeonato. Então, eu
comecei a preparar minha família para o pior.
Você conhecia o Zezé e o Gilson? Eles podem ter participado
do crime?
Acredito que não. Eu conheci o Zezé antes. Se você for
entrar em contato com algum jogador de futebol, você vai ligar pra assessoria
dele. Então, todos tinham acesso ao Luiz Henrique. O Zezé era questão
profissional ao grupo dos Neguinhos, ao grupo de pagode, à sociedade que eles
queriam levar mais adiante. Em relação a essa outra pessoa, o Gilson, eu não
posso falar porque não conheço.
A juíza disse, durante o julgamento, que existiam elementos
que apontavam sua participação no tráfico de drogas. Você já se envolveu com o
tráfico, no Rio ou em Minas?
Será que não existe um preconceito em cima disso aí não, só
porque eu saí da favela? Na oportunidade, quando eu estava subindo na vida, nunca
passou isso pela minha cabeça. A educação que a minha mãe me deu, a formação,
por mais que seja humilde, jamais passou isso pela minha cabeça. Então, não sei
se existe um preconceito em cima disso.
Quais são os seus planos quando sair daqui? Jogar futebol de novo?
Não sei quanto tempo mais eu tenho que ficar aqui. Mas
enquanto tiver sangue correndo nas minhas veias, eu vou lutar por isso. ‘Mas
você sonha ainda com a seleção brasileira?’. Por que não sonhar? Não paga nada.
‘Você sonha ainda em voltar a jogar futebol profissional?’. Por que não? Tudo
depende de você. ‘Você volta ao Flamengo?’. Por que não?
Acho que seria uma das
coisas mais vitoriosas na minha vida. Mas, se por acaso isso não acontecer, não
vou me abater e vou continuar lutando e batalhando no meio do futebol. Acho que
eu tenho capacidade para isso. Eu respiro futebol, eu gosto de sentir aquele
calor, aquela emoção. Eu acredito nisso.
Você acompanhou a conquista da Libertadores pelo Atlético?
Sim, acompanhei e vibrei. Apesar de ter jogado no
Corinthians e no Flamengo, sou torcedor do Atlético. Eu quero parabenizar o
time. E principalmente o Alexandre Kalil que trabalhou comigo. É um ótimo
dirigente.
E os seus amigos, jogadores do futebol, não o visitam? Viraram as costas para você?
Não, ninguém vem me ver. Mas eu entendo. Pessoas públicas
não gostam de vir à cadeia. Não tem problema. E vou sair daqui e aí a gente se
encontra. Minha carreira não acabou.