Fotos: Pedro Figueira
Ele passou pela Santacruzense por duas vezes...
A Primeira em 2006 quando Nairo Ferreira e o São Caetano desembarcaram em Santa Cruz do Rio Pardo...
E a segunda em 2010, quando após uma derrota em Indaiatuba “demitiu” o técnico Nei Silva numa entrevista ao vivo...
No clube do ABC paulista que ele teve seu ponto alto na carreira...
Viu do banco de reservas a escalada que levou o São Caetano a disputar e perder uma final de Libertadores da América...
Esse ex-goleiro de 37 anos, e 1, 90 de altura, com um sotaque que rapidamente entrega sua origem gaúcha, será o responsável pelo time da Santacruzense no momento mais importante de sua história...
A disputa da série A2 em 2012.
Com uma vontade enorme de mostrar tudo que aprendeu durante os 20 anos no futebol, Luciano Quadros fala ao BLOG:
Muitos ex-jogadores já deram declarações que às vezes o técnico pode mais atrapalhar do que ajudar um time de futebol. Pra você um técnico realmente ganha jogo??
Um técnico tem o dever e a incumbência de armar bem seu time. Conhecer o adversário, anular as peças mais fortes desse time.
Falam que o técnico não joga, mas ele é parte importante dentro da equipe, o técnico pode atrapalhar se não conhecer bem seus atletas e capacidade de seu time.
Então o técnico só motivador é coisa do passado??
Um técnico assim não dura muito tempo... Afinal você encontra uma outra equipe estruturada na parte tática, sistemática, física... Mesmo você tendo os melhores jogadores se você não conseguir montar uma boa estrutura tática e técnica e se o jogadores não entenderem o que você quer fica difícil.
Quando jogador você se destacava pela maneira como falava durante todo o tempo com seus companheiros, isso foi sempre uma característica sua ou foi uma maneira de poder ajudar que surgiu com o tempo e com a experiencia??
Eu sempre fui de vislumbrar e antecipar a jogada... Falar por falar depois que acontece um lance não adianta... O Ronaldo ex goleiro do Corinthians falava muito, mas depois que acontecia, ele xingava todo mundo abria os braços, aí não adianta...
Tem que mostrar, instruir durante o jogo, uma colocação de um determinado jogador por exemplo, coisa que falta muito ao atleta de hoje em dia.
É por isso que os jogadores de defesa se dão melhor como técnicos?
Talvez sim, os jogadores de meio pra frente jogam mais soltos, e não se preocupam tanto em marcar, jogam sem responsabilidade, mas também é uma situação que está mudando, o jogador moderno, mesmo os meias e atacantes, devem também colaborar na hora de pensar no posicionamento sem a bola.
O Corinthians do Tite foi campeão jogando num sistema muito parecido ao que você que implantar aqui na Santacruzense. Jogando num 4-2-3-1 onde tanto Willian quanto Emerson Sheik voltavam sem a bola pra fechar o avanço do lateral adversário. É assim mesmo que você imagina a Santacruzense jogando na A2?
A princípio o meu pensamento é esse. Quero vender essa ideia aos jogadores, o mais importante será o posicionamento sem a bola, com a bola a parte técnica deverá se sobressair, pois teremos bons jogadores.
No futebol o que faz o gol acontecer é o mano a mano, o individual de cada um... Mesmo sendo um esporte coletivo o aspecto individual é muito forte, cada um faz a sua da melhor maneira possível, dentro de sua função.
E por outro lado o mercado dos grandes clubes pede isso, jogadores que saibam sua função em campo, o futebol no estilo “peladeiro”, onde jogadores rodam o campo inteiro, sem um compromisso com o coletivo não existe mais.
Houve um episódio em 2010 após uma derrota para o Primavera de Indaiatuba que você criticou muito o seu técnico na época que era o Nei Silva, após o jogo Nei acabou sendo demitido, você acha que por ter um bom relacionamento com a diretoria da Santacruzense a sua postura naquele momento acabou influenciando nessa demissão??
Não sei ate que ponto a diretoria se deixou influenciar...
Eu entendi naquele jogo que acabamos perdendo por falta de uma situação tática melhor, por falta de uma visão de jogo melhor ou pelo menos de ter situações pra se ganhar uma partida.
Naquele jogo demos dois ou três chutes a gol, mesmo jogando com um homem a mais.
Não criamos nada e por isso perdemos o jogo.
Não criamos nada e por isso perdemos o jogo.
Eu não digo que o Nei seja um mal técnico, é claro que de fora é mais fácil de se falar, mas faltava muito, essa é a realidade e tinha que ser dita.
Se o time não tava bem, e faltava um trabalho técnico mais aprimorado a culpa é de quem?? Do presidente ?? Não... Isso é função do técnico.
E como você vê o mercado de técnicos atualmente ??
A meu ver vivemos um momento difícil no que se refere a técnicos no interior paulista e ate mesmo outros centros, por uma falta de estudo e de trabalho no dia a dia.
Ninguém quer um Mourinho ou um Tite, queremos alguém que tenha vontade e preparo para trabalhar uma equipe no dia a dia.
Você já planejava trabalhar como técnico em 2012 quando surgiu à oportunidade na Santacruzense, ou antecipou sua aposentadoria pela chance de comandar o time??
Eu me preparei para no final de minha carreira eu jogar até onde desse, e parar num clube em que eu tivesse um bom ambiente, e uma boa identidade com torcida e diretoria. Mas já penso nisso, em ser técnico, a alguns anos.
Já faz alguns clubes que sou problema para os técnicos pela meu jeito de ser.
Já faz alguns clubes que sou problema para os técnicos pela meu jeito de ser.
Quando recebi o convite para ser técnico da Santacruzense, eu ainda tinha propostas para atuar como goleiro, mas preferi aceitar o desafio de dirigir um time, afinal a chance era boa, numa divisão boa, a minha idade já me levava a pensar nisso.
Nada melhor que começar agora num lugar que gosto e conheço bem, onde tem cobrança e já vou começar na “fumaça”, do jeito que eu gosto.
Eu sempre disse quando jogava no mínimo uma “confusão” temos que armar... Você pode até perder o jogo, mas o time que te vencer tem que nunca mais querer enfrentar o seu time.
É claro que pelo fato de ter jogado e ser muito respeitado pela torcida da Santacruzense sua responsabilidade aumenta, em algum momento você pensou em não aceitar o convite por receio de acabar manchando sua imagem de ídolo no clube??
Não. Isso nunca me passou pela cabeça. Não vivo disso e jamais irei me apoiar isso.
Quando voltei como goleiro em 2010 eu sabia que não podia me apoiar na campanha de 2006, e assim será sempre pra mim também como técnico.
O que já foi já foi... Seja bom ou ruim, já foi.
Estou aberto as criticas e aos elogios e preparado para ser avaliado nessa minha nova função, espero chegar até o fim do campeonato, e fazer um trabalho que me prepare para que em breve eu possa alcançar lugares maiores, que é o sonho que tenho.
Uma preocupação do torcedor da Santacruzense é que se por acaso seu trabalho não der certo e você acabar saindo do comando do clube no meio da A2 a empresa parceira (K@2) também rompa o contrato e deixe a Santacruzense já que foi você o responsável direto pela vinda da empresa para Santa Cruz. Isso pode mesmo vir a acontecer??
Não, pois são duas coisas diferentes.
Eu fui apenas o elo entre Santacruzense e K@2. Eu apenas apresentei o clube para a empresa.
Se eu vier a sair no futuro sempre vou apoiar, a parceira veio pela Santacruzense e não por mim, espero que a parceria fique, até porque sei que o futebol é resultado, vivo disso o futebol é minha vida.
Se algo começar a não dar certo, se o resultado não aparecer ninguém sobrevive.
É assim que funciona.
Como jogador você já trabalhou com vários técnicos conhecidos, qual deles você destacaria como o melhor??
Eu gosto muito do Mario Sergio, apesar de eu achar ele retranqueiro, ele era um técnico muito inteligente, muito tático, muito antenado em detalhes do time que ia enfrentar... Mas era retranqueiro, e acabava se preocupando mais em não sofrer gol do que em marcar.
Mas existe mesmo o técnico retranqueiro??
Sim! Existem técnicos que se preocupam muito mais em não tomar o gol do que em fazer... O Mario mesmo... Sua grande preocupação era não dar espaço ao outro time, e isso ele sabia fazer muito bem.
Aliás penso que se o Mario Sergio fosse nosso técnico no São Caetano nas finais dos dois Brasileiros e da Libertadores teríamos sido campeões... Mas por outro lado eu não sei se a gente chegaria a essas finais se o tivéssemos no comando durante toda a temporada, pois ele não priorizava a vitoria, o primeiro pensamento era sempre não tomar o gol do adversário.
Aliás penso que se o Mario Sergio fosse nosso técnico no São Caetano nas finais dos dois Brasileiros e da Libertadores teríamos sido campeões... Mas por outro lado eu não sei se a gente chegaria a essas finais se o tivéssemos no comando durante toda a temporada, pois ele não priorizava a vitoria, o primeiro pensamento era sempre não tomar o gol do adversário.
E Jair Picerni, era o oposto??
Sim o Picerni era muito ofensivo...
Gostava de colocar seus times pra cima sempre, mas pecava na parte tática e na atenção ao adversário, o que, por exemplo, numa final faz muita diferença.
Mas e ai? Você e os outros jogadores daquele São Caetano sabendo dessa falta de atenção do Picerni conversavam entre vocês sobre algumas situações de seus adversários, mesmo sem o técnico pedir???
Sim falávamos muito.
Mesmo eu não jogando, todo mundo me ouvia por essa facilidade de ver o jogo que eu já tinha...
Mas aquele time era muito bom e competente, todos os jogadores que jogavam sabiam demais em suas funções, tínhamos o Dininho, Daniel, Serginho, Marcos Senna, Magrão... Uma equipe sensacional.
Fora de campo você sempre se relacionou bem com a imprensa, na Santacruzense costumeiramente existem atritos no relacionamento imprensa e diretoria do clube. Na sua opinião até que ponto um treinador deve querer controlar o que deve ou não ser divulgado num clube??
Penso que a imprensa tem que falar tudo, não interessa o assunto doa a quem doer.
O que não pode ser falado é uma situação onde não se tem uma certeza, em que se planta uma noticia.
O que não pode ser falado é uma situação onde não se tem uma certeza, em que se planta uma noticia.
Seja lá o que acontecer estou aqui para responder a qualquer momento e evitar qualquer informação inventada ou aumentada.
Sou completamente contra omitir fatos, tudo que acontece na vida e no futebol tem que ser levado a tona...
Somos pessoas publicas, as pessoas querem saber o que acontece aqui dentro, tanto os atletas como nós da comissão técnica e diretoria, não podemos dar motivo para que se fale.
Mas se o fato realmente acontecer tem mais é que ser dito mesmo.
Somos pessoas publicas, as pessoas querem saber o que acontece aqui dentro, tanto os atletas como nós da comissão técnica e diretoria, não podemos dar motivo para que se fale.
Mas se o fato realmente acontecer tem mais é que ser dito mesmo.
Se por exemplo acontecer de o salário de um jogador não for pago ou algum atleta for punido por má conduta profissional, tudo tem que ser falado e ponto.
Comigo não tem isso de passar o pano em situação errada... Isso é coisa de gente desonesta.
Apesar de ter jogado e ser admirado por todos os torcedores da cidade seu nome não foi consenso quando anunciado como técnico do time para a A2, alguns torcedores e até mesmo diretores ficaram com um pé atrás pelo fato de ser seu primeiro trabalho como técnico logo no momento mais glorioso da história da Santacruzense. Essa pressão toda logo de cara não o assusta??
Vai existir isso... E eu sabia que isso aconteceria... Pra jogar eu era velho demais, experiente, malandro... Veterano...
E pra ser técnico eu não sirvo?? Será que tudo que aprendi na minha carreira não me traz condição de treinar um time?? Eu tenho então que parar de jogar bola e morrer??
Quer dizer que alguém tem mais condição que eu porque tem mais de 50 anos??
Tenho totais condições de fazer um trabalho tão bom quanto qualquer outro treinador mais experiente.
Historicamente treinadores gaúchos fazem sucesso no futebol brasileiro, Felipão, Tite e Mano Menezes são alguns dos exemplos. Como você explica esse sucesso dos gaúchos como técnicos e com qual desses perfis você se identifica mais??
Sem prepotência e sem puxar a sardinha eu acho que o gaucho é mais compenetrado, mais concentrado, mais comprometido com o que faz, e se entrega mais para algumas situações...
O povo gaúcho é um povo que as vezes parece até ser mais sério que os demais.
Tratamos tudo sempre as claras...
Existe uma expressão que usamos muito por lá que é “Quem for podre que se quebre” quando, por exemplo, estamos em uma discussão sentamos e nos acertamos, quem estiver com a verdade vai mostrar e quem tiver com a mentira vai se quebrar.
Eu mesmo, se alguém me pergunta algo, vou lhe dizer a verdade, se alguém quiser minha opinião terá... Se não vai gostar do que vai ouvir problema de quem perguntou.
Sobre um técnico que eu gosto pela linha de trabalho e de pensamento ao longo da carreira é o Tite.
Penso que ele conseguiu montar um time no Corinthians, que jogava com a bola, e sem a bola, de forma muito competitiva sem ter um grande craque.
Nunca trabalhei com ele apenas o enfrentei quando ele ainda estava no Caxias, ele se expressa muito bem, apesar de as vezes dar uma brilhada na conversa por ser bem polido, mas ele conhece muito de futebol.
Tele Santana certa vez disse que preferia perder uma partida jogando bem a ganhar jogando mal. A seleção de 1982 que foi treinada por Telê é vista até hoje como a melhor de todos os tempos mesmo sem ter sido campeã do mundo. Tem como pensar assim ou próximo disso numa série A2??
Penso que não.
Seria ótimo jogar bonito e ganhar, mas o ideal é fazer um bom futebol nos momentos difíceis se comportando bem numa marcação ou manter um placar até que não seja muito bom pros olhos de quem vê de fora ou segurar uma marcação e não perder um jogo.
Mas jogar bem e não ganhar no futebol é impossível
O importante é manter um equilibro no começo, como a Santacruzense que está começando um time do zero, sem uma espinha dorsal.
O ideal seria manter esse time o ano todo...
Mantendo esse time na A2, e depois trabalhando na Copa Paulista com 80% desse elenco no outro ano, em 2013, poderíamos tentar algo melhor pra Santacruzense.
Você disputou e foi vice-campeão da Libertadores com o São Caetano, um time pequeno praticamente sem torcida e tradição, com jogadores pouco conhecidos que formaram um time compacto, onde não existia uma grande estrela, e sim um grande conjunto. Alguns clubes que você ira enfrentar com a Santacruzense nessa serie A2 já começam a trazer os chamados medalhões para reforçar seus times. O que é melhor? Ser como aquele São Caetano, “humilde” e eficiente ou trazer jogadores acostumados a pressão com mais rodagem no futebol??
O ideal é o equilíbrio.
Tanto os jovens como os medalhões são importantes.
Tudo depende da condição do clube, pois são situações diferentes.
Se você tiver um medalhão e não tiver um comando pra cobrar deles uma postura de atleta com tática e técnica, e de repente esses medalhões vem pra um time para só enganar 4 meses e levar o dinheiro do clube.
Agora se você esta num clube que tem dinheiro aí não importa se o jogador mais rodado quer “roubar” ou não.
Se ele não render você o saca e contrata outro.
Na nossa realidade a gente tem que errar o mínimo possível. E pra isso devemos buscar jogadores com “fome”, que querem se entregar num clube como esse para aparecer e buscar algo maior na carreira.
Você vende essa idéia e ele se esforça pelo grupo todo. Como não podemos errar buscamos informações de todos as maneiras, com vídeos e com pessoas de confiança.
Por isso prefiro um time que se dedique a camisa que defende, que compre uma ideia e que possa dar uma excelência pra trazer um resultado.
Sem pensar pra responder Luciano, a Santacruzense entra em 2012 pra buscar uma vaga na A1 ou se manter na A2??
Pra se manter na A2!